Decidimos conhecer Puno porque fica às margens do lago Titicaca, porta de entrada para visitar o povo Uros e suas Ilhas Flutuantes.
A cidade de Puno em si é charmosa, mas não tem nada de muito especial, a não ser o porto pois é de lá que saem os barcos para as ilhas flutuantes de Uros, e isso sim é uma experiência especial e bem diferente.
Atualmente reduzidos à exposição turística, à venda de pequenos artesanatos e à exibição de um modo de vida primitivo mas muito engenhoso, os Uros resistem no tempo sendo um povo pré-colombiano que flutua no lago Titicaca, nas proximidades de Puno, desde época remota e desconhecida.
Para comprar os passeios de barco pelas ilhas você não precisa de muita antecedência, geralmente na recepção do seu hotel ou hostel eles dão informações e até fazem as reservas. O melhor é fazer um passeio que comece pela manhã onde você aproveita alguma ilha e também visita os Uros. Nosso passeio começou no início da manhã na Ilha de Taquile.
Opte por visitar uma ilha mais tradicional, algumas ilhas se voltaram tanto para o turismo que perderam as características originais. Umas das ilhas que você deve fugir, ou pelo menos deixar para visitar por último é a Hanan Pacha, nesta ilha os Uros tem até Tv, placas de energia solar e existe um pequeno hotel.
Nas ilhas mais tradicionais você vai conhecer famílias nativas que hoje dependem quase que exclusivamente do turismo, já que a pesca está escassa, mas mesmo assim mantêm suas raízes e cultura quase que intocadas. As crianças são lindinhas com as roupas típicas, iguais aos adultos.
As ilhas flutuantes são artificiais, produzidas com um entrelaçado de uma planta chamada Totora (uma espécie de junco). A Totora é uma planta versátil que nasce na água e seca ao sol oferecendo resistência suficiente para não afundar. Pode-se comer sua raiz, pode-se fazer chá e remédios de suas folhas e flores e é dessa planta também que são feitas as casas, barcos, e outras construções da ilha.
Na chegada à “Islas Flotantes de Los Uros” os habitantes locais fazem uma explicação com uma maquete de como funciona sua engenhosa estrutura, explicam, entre outras coisas que as ilhas flutuantes funcionam como um epitélio ao contrário, onde, abaixo, as camadas de Totora vão se desgastando e acima eles repõem uma nova camada que seca ao sol e ao vento forte do lago, renovando o poder de flutuar.
Durante a “exploração” do local fomos convidados para conhecer a casa de uma família, ficamos por ali um tempo conversando sobre sua rotina e também pudemos ver como são preparadas as comidas na “tenda cozinha”, protegida para não incendiar.
É possível fazer um passeio no barco de Totora por 10 soles por pessoa (US$ 3,30). Os barcos são lindos. Fomos conversando com Samuel, o barqueiro, sobre como ele vê o futuro do Uros, ele nos falou sobre o número marcante de adolescentes que não tem interesse em ficar na região e disse ainda que via no turismo uma nova perspectiva para muitas famílias e que eles ainda estão aprendendo a lidar com isso.
Os Uros são diferentes e cruzar com eles é bastante mítico e mistico, temos a sensação de vivenciar história pura, ao vivo, através de um imenso lago verde, com pequenas montanhas andinas ao fundo, enfeitado com cores sobretudo douradas, habitado por um povo enigmático que, mesmo estando lá não conseguimos entender como fazem realmente para viver permanentemente sobre o mais alto lago navegável do mundo.
Os Uros são históricos, legendários… intitulam-se os homens molhados, que dizem existir na Terra antes mesmo do surgimento dos humanos, os homens secos…
Ao sair de lá, olhando os Uros à distância uma pergunta sempre fica latejando em sua mente: Qual seria o motor histórico que levou este povo a criar engenhosas aldeias flutuantes?