Taquile é uma ilha rochosa localizada a 35 km ao norte da cidade de Puno, é a maior ilha peruana do Lago Titicaca. Tem uma área de 6 km² e fica a 3.800 metros sobre o nível do mar.
Os taquilenhos são gente de sorte. Vivem cercados por um dos mais belos cenários do continente, tem uma religião conectada à natureza e souberam transformar seu isolamento em arte. É fato: Em nenhum lugar da região se vê comunidade tão criativa e colorida.
A única vila fica no alto da montanha à 190 metros acima do lago. Para chegar até ela existem dois caminhos: uma escadaria com 538 degraus ou uma trilha de quase 3 quilômetros com subidas suaves que passa por fazendas e pequenas comunidades.
Decidimos iniciar o caminho pela trilha e deixar as escadarias para a descida de volta ao nosso barco. Conforme subíamos, encontramos os taquilenhos fazendo suas atividades diárias, que são basicamente a agricultura e o artesanato, tudo como se não fossemos turistas. Isto é uma parte legal deste passeio, pois a ilha ainda não sucumbiu ao turismo comercial.
Durante o passeio nosso guia explicava sobre os trajes, que são diferenciados e coloridos conforme o estado civil de cada um. As mulheres casadas normalmente se vestem com saia preta e blusa de cores sóbrias. Sobre a cabeça levam um xale de lã escuro. As moças solteiras também usam o xale, mas suas roupas são de cores vivas e com enormes e coloridos pompons nas pontas. Todas usam de 5 a 6 camadas de saias, uma por cima da outra. Os homens em geral usam calça e colete pretos e uma cinta larga e colorida. Junto à cinta levam uma bolsa onde carregam as folhas de Coca. A diferença entre solteiros e casados está no gorro, os solteiros usam um gorro metade branco e a outra metade colorida e os casados um gorro totalmente colorido.
Na pequena ilha habitam cerca de 500 famílias. A religião predominante do Peru é o cristianismo católico, mas todos louvam fervorosamente Pachamama, a Mãe Terra, com um profundo orgulho de suas origens Incas. Embora sejam cidadãos peruanos, os moradores da Ilha de Taquile seguem leis próprias: não há um só soldado da polícia e nosso guia afirma que não há um crime há mais de 20 anos neste lugar. Também não há asfalto nem veículos. Há somente campos verdes cultivados, ruínas pré-hispânicas, eucaliptos e ciprestes trazidos na década de 50.
Os Taquilenhos tem um conjunto de três leis básicas herdadas dos antepassados Incas. São elas:
Ama Sua – Não seja ladrão.
Ama Kella – Não seja preguiçoso.
Ama Llulla – Não seja mentiroso.
Se alguém precisa de ajuda, todos ajudam. O principio de companheirismo e da reciprocidade são muito fortes na ilha.
Cada comunidade tem um presidente a quem todos os conflitos e necessidades são apresentados. Como sinal de sua autoridade, estes chefes usam um gorro colorido sob um chapéu escuro. Todos os Domingos, depois da missa, os presidentes das diversas comunidades se reúnem com o prefeito (eleito por 4 anos) e discutem a solução dos problemas. Nunca terminam a reunião sem dar uma solução a cada caso. Isto ajuda a garantir um clima de paz na ilha. A comunidade de Taquile também é muito saudável. Existem poucas doenças e a média de vida é uma das mais elevadas do Peru, chegando aos 85 anos. Isto se deve muito a vida tranquila e ao fato de 98% dos moradores serem vegetarianos, alimentam-se principalmente do que a terra lhes dá: milho, batata, vagem e quinoa. Os animais da ilha são usados para a agricultura, para tirar leite e lã.
Depois de quase 90 minutos de caminhada chegamos ao alto da vila, para presenciar um pouco da música e artesanato local. Outra curiosidade é que a maioria deste artesanato é feito pelos homens e não pelas mulheres. Eles passam boa parte do dia tecendo bolsas, sacolas e outros objetos que usam ou vendem. Fazem isto o tempo todo, mesmo quando estão conversando ou resolvendo problemas. As mulheres cuidam de fiar a lã, da casa e também do gado. O taquilenho que não sabe tecer é chamado por seus conterrâneos de muruqu maki, expressão Quechua (língua predominante na ilha) que quer dizer ‘mão redonda’, basicamente: Pessoa inútil.
Um grande arco marca a divisa entre as comunidades. Encontramos diversos arcos em Taquile.
Uma viagem inesquecível por um mundo totalmente diferente do que estamos acostumados neste país tão misterioso que é o Peru.