O Sarita Colonia imprime um conceito único e extrovertido na gastronomia do Chile. É um templo onde a arte domina, desde a decoração caótica até a cozinha criativa e instigante.
É de uma alegria sem tamanho para a alma visitar um lugar com absolutamente todos os ingredientes necessários para uma experiência perfeita. Assim é o Sarita Colonia.
Situado numa grande casa na Recoleta em Santiago este lugar estimula a imaginação desde a fachada, fazendo referência a reinauguração do restaurante que foi sucesso em meados do ano 2000, fechou em 2004 e reinaugurou em 2014. Logo acima da porta com oito maçanetas a figura de uma jovem, duas rosas e o nome do restaurante entre estrelas.
A jovem da pintura é Sara Colonia Zambrano, uma peruana de bondade extrema que dedicou seus 26 anos de vida a ajudar indigentes, prisioneiros, homossexuais, transexuais e travestis e que até hoje são lhe atribuídos diversos milagres. Apesar de não ser reconhecida pela Igreja Católica, a santa, chamada carinhosamente de Sarita Colonia continua com grande veneração popular.
Desde a recepção encontramos uma decoração que nos fez parar tudo e olhar para cada canto para tentar entender um pouco mais deste lugar excêntrico e magnífico.
A mansão clássica tem muitos segredos escondidos entre seus 3 níveis. O primeiro e segundo andares abrigam o restaurante, pouca luz, boa música e um conceito que quebra diversos paradigmas.
Neste templo kitsh encontramos peças de arte que remetem a romance, sagrado, profano e grotesco, tudo ao mesmo tempo, são detalhes de pornografia, diversos crânios, peças resgatadas de lugares incomuns, assentos estofados em tecido de camuflagem do exército chileno e peças produzidas por artistas dos mais variados estilos.
A tradução de “Travesti” vai se fazendo cada vez mais clara para quem imerge no Sarita Colonia, a definição da palavra aqui é “diferente”, um conceito de inclusão que mostra que ser diferente é uma força alegre e poderosa, uma janela para a alma dos criadores Gino Falcone, Jose Salkeld, Anita Garrido, Francisco Torres, Cecilia Fisher e Martín Fisher.
Antes de começar o jantar fomos conhecer o 3º pavimento do prédio, onde fica o amplo espaço do bar, aberto às sextas-feiras e aos sábados.
Fomos muito bem atendidos desde a chegada, os garçons são extremamente dedicados e fizeram de tudo para que nos sentíssemos em casa. Assim que nos acomodamos o Couvert veio à mesa. Deliciosos pães, alguns inclusive cor de rosa resultado da preparação com beterraba e acompanhados com um patê caseiro divino.
Enquanto estávamos analisando o menu fomos surpreendidos por um amuse bouche apresentado pelo jovem e premiado chef Juan Andrés García, um Palmito Recheado com Salada de Quinoa e Ovo de Codorna uma entrada leve e equilibrada, ótima representante da culinária peruana e que deixou nossa noite ainda mais perfeita.
Escolhemos como entrada um Pulpo al Olivo, cortes de polvo marinados em azeite de oliva e limão, servidos com molho de azeitonas pretas, acompanhados de “musgo de perejil” uma erva típica peruana e ainda pão brioche escurecidos com tinta de lula. – CLP 10.900 (cerca de R$ 54,00 em 08/2016) –
Este prato nos mostrou a capacidade que o Sarita Colonia tem de nos levar por uma viagem ao Peru surreal, a ideia aqui é um passeio na Costa do Pacífico, onde o musgo de perejil é a praia, o polvo está sob o mar de molho de azeitonas e os pães escuros são as rochas no oceano.
outra entrada que experimentamos foi o Tiradito de Locos. Loco é aquele molusco nobre, redondo e carnudo que só existe nas costas chilena e peruana, neste prato eles são laminados e marinados com molho de pimentão amarelo, servidos com chalaca de batatas rochas, cebola, cenoura e pimentão verde. O prato ainda traz lâminas de rabanetes em conserva. – CLP 11.900 (cerca de R$ 59,00 em 08/2016) –
Locos é algo fantástico, parece que tudo fica bom com este ingrediente, agora, nesta preparação ele foi elevado a estado de arte.
Experimentamos também diversos drinks durante toda a noite. Um melhor que o outro, não é a toa que o bar do Sarita Colônia coleciona vários prêmios.
Este é um lugar que impressiona de todas as maneiras, tudo aqui tem uma razão, uma história, tudo está relacionado de alguma forma. Entre as excentricidades da casa estão os pratos propriamente ditos, que não se repetem, são únicos. Em cada viagem dos sócios novos pratos são somados a coleção e criam um mosaico maravilhoso.
A festa gastronômica se elevou com a clássica La Tortillera Española, recheada com salsicha Huachana, servida com huancaína de tomate, alho confitado e uma chalaca de cebola, pimenta rocoto e pimentão amarelo. – CLP 8.900 (cerca de R$ 44,00 em 08/2016) –
Pescado com Purê de Camote, feito com o peixe Bonito frito, que fica marinando de um dia para o outro, sobre um purê de Camote, uma batata doce típica da região dos andes.
Recomendamos muito experimentar também o Asado de Tira Glaseado al Sauco con Cremoso de Mote, o famoso prato peruano que leva uma costela cozida em fogo baixo por 6 horas aqui é glaceada com molho de saúco (sabugueiro) e servido com um creme de mote e pimentão amarelo. – CLP 11.900 (cerca de R$ 59,00 em 08/2016) – Este foi um dos melhores “Asado de Tira” que já experimentamos!
E para finalizar os pratos principais degustamos o El Sultán de Chincha, pescado do dia (que em nossa visita era o peixe Bonito) com crunch negro sobre hummus de pallares em tinta de lula (servido à temperatura ambiente) e cebolas chalotas em conserva. – CLP 11.900 (cerca de R$ 44,00 em 08/2016) – Outro prato muito bem apresentado e de sabor inesquecível.
Antes de pedir as sobremesas decidimos explorar mais o ambiente e fomos ver de perto o espaço dedicado à santa Sarita Colonia, uma espécie de cemitério que fica dentro do restaurante. Cada nicho é dedicado a um artista, no dia em que visitamos os espaços estavam praticamente vazios, mas nosso garçom, Carlos, informou que diversos artistas estavam se mobilizando para preencher cada espaço de forma única e autêntica.
As horas passam rapidamente aqui, é tudo tão incrível que não vemos o tempo passar. Voltando a nossos lugares e pedimos de sobremesa o clássico Suspiro Limeño, um doce que é símbolo de Lima, aqui o menjar blanc é espesso e delicioso.
Um dos pratos que mais atiçaram nossa curiosidade desde o início foi o Cocadicto, eu não via a hora de experimentar o blondie de farinha de coca com sorvete de folha de coca sobre creme doce de maracujá. – CLP 5.900 (cerca de R$ 29,00 em 08/2016) – Não decepcionou. Simplesmente incrível, eu poderia comer isto todos os dias.
A experiencia da “Cocina Peruana Travesti”, que combina sabores peruanos com os outros no mundo, soa familiar e deliciosamente surpreendente no Sarita Colonia. Não é fusão, muito menos gastronomia típica, é um outro mundo de percepções em um espaço que estimula a imaginação e os cinco sentidos. Este é um lugar de visita obrigatória em todos os roteiros gastronômicos de Santiago.
Sarita Colonia
Loreto 40
Recoleta
Região Metropolitana de Santiago – Chile
+56 2 2881 3937
saritacoloniarestoran.cl
Mais uma experiência fascinante em nosso álbum: Mãos Pelo Mundo.