Jujuy é uma expressão que significa alegria, felicidade, e foi justamente isto que encontramos no norte da Argentina, mais precisamente na localidade de El Carmen, onde vivemos um dos dias mais intensos de nossas vidas.
Tudo começou bem cedinho no Hotel Howard Johnson na capital San Salvador de Jujuy, de onde seguimos pela Ruta Nº 9 por cerca de 30Km até o Dique Las Ciénaga uma represa com visual estonteante na localidade de El Carmen.
Fomos recepcionados pelo amável Ramon, um gaúcho típico, de origem Quechua, que estava preparando o tradicional “asado a la estaca” um churrasco assado na vertical, com uma armação em forma de cruz onde se prepara uma costela inteira em cocção lenta, levando no mínimo 4 horas para ficar pronta.
Ramon é um homem experiente e com muitas histórias incríveis para contar, a vontade era sentar ao seu lado e ficar ouvido suas lições o dia inteiro, mas como o roteiro estava cheio de atividades deixamos nosso mais novo amigo cuidando do “assado no fogo” e fomos conhecer uma das tradições mais ricas herdadas do povo Quechua: O ritual da Pachamama.
A Pachamama é uma das maiores divindades Incas, ela é a Mãe Terra, responsável por tudo o que cresce em nosso planeta. Sempre no mês de agosto o povo rural de Jujuy oferece presentes para que o próximo plantio seja farto.
A cerimônia a qual participamos acontece no centro da cidade, em um espaço destinado a eventos, cada participante traz uma oferenda entre comida, utensílios e muitas bebidas alcoólicas.
Um vaso de barro com comida cozida, folhas de coca, álcool, vinho, cigarros e chicha (bebida fermentada produzida pelos povos indígenas da Cordilheira dos Andes) que estava enterrado para ficar mais próximo da Pachamama é retirado de seu descanso e o poço é utilizado para o ritual.
As cerimônias são executadas inicialmente pelos mais idosos da região ou então por uma autoridade de poder maior na comunidade, no evento em que participamos o prefeito em exercício Adrian Ruben Mendieta foi quem fez as honras iniciais.
Pachamama é uma divindade protetora e provedora de fertilidade e fecundidade, por isto, nos rituais onde se “dá de comer e de beber à Terra” são compartilhadas as oferendas trazidas pelos participantes, todos oferecem e experimentam as comidas, bebidas e cigarros.
Nós também pudemos ter a experiência enriquecedora de compartilhar com a Mãe Terra um pouco desta cultura. O ritual é mágico, puro e profundo, é difícil expressar em palavras o que é fazer parte de algo desta magnitude. Ao final das oferendas a pessoa é adornada com fitas coloridas e muitos confetes.
Deixamos o evento com o ensinamento de que “Tudo o que é entregue à Pachamama é feito a partir da dualidade homem-mulher, Tata Inti-Mama Quilla, par-ímpar. Isto é feito para vivermos em harmonia com os quatro elementos que nos unem e são nossos treinadores, água, ar, fogo e pacha. Sem eles não haveria vida”.
Nossa próxima parada foi no Turismo Rural Los Naranjos às margens do Enbalse las Maderas, uma pequena comunidade de moradores que está começando a explorar o turismo através da gastronomia rural e os passeios a cavalo.
Fomos muito bem recepcionados por todos moradores da localidade que nos explicaram como é sua vida e o seu dia a dia. É incrível poder sentir a ligação deste povo com a terra e tudo que a cerca.
Nos foi oferecido os cozidos tradicionais com uma variedade de maíz com sementes grandes, ovos caipira e tempero verde acompanhados de café passado, linguiças, queijos e pão caseiro fresquinho.
Mas o que realmente me encantou foram as empanadas. Já comemos milhares de empanadas nos países da América do Sul e estas foram as minhas preferidas até hoje. Não sei explicar, pode ser porque estávamos em um lugar lindo e rodeados por pessoas muito amáveis, talvez seja a panela de ferro, mas acredito que o segredo mesmo é a receita de família transmitida por gerações, é uma pena não termos a tecnologia para transmitirmos o aroma e o sabor através das imagens.
Aproveitamos a oportunidade para uma rápida cavalgada até às margens do Dique las Maderas. Todos os cavalos da propriedade são mansos e aptos para entreter cavaleiros inexperientes de todas as idades.
O passeio foi ideal para entendermos a vegetação e o clima de El Carmen o ponto alto é o espelho d’água da barragem, muito utilizado para a realização de esportes náuticos e pesca.
Antes de seguirmos viagem ainda pudemos assistir a um show de laço (os peões estavam laçando uma cadeira, mas valeu mesmo assim 🙂 ), um show de dança entre os proprietários da fazenda e um recital de poesia. Foi inesquecível.
De volta ao Dique Las Ciénaga, nosso anfitrião Ramon, já estava com o asado a la estaca no ponto.
Experimentamos um almoço típico do norte da Argentina, muito bem servido, acompanhado de vinho e de batatas, outro orgulho da região dos Andes que produz centenas, talvez milhares de diferentes variedades do tubérculo.
Depois do almoço seguimos para a Plaza Domingo Teófilo Pérez, um lugar simpático, síntese de toda a tranquilidade da região e principal ponto de encontro entre moradores de El Carmen.
Nesta praça presenciamos a cultura do povo através da incrível voz de um prodígio musical que encanta com seus zambas típicos andinos (veja no vídeo mais abaixo).
Também pudemos admirar apresentações de dança nas calçadas da praça com grupos que encenaram zambas, chacareras e malambos. Esta experiência fascinante nos deixou claro a paixão destas pessoas por preservar a cultura de seus antepassados.
O lanche da tarde ficou a cargo dos maravilhosos buñuelos, uma espécie de bolo de chuva em forma de donut. Tivemos uma verdadeira aula de como são produzidas estas iguarias com Mariela e Mendoza, destaques do 4º concurso Provincial del Buñuelo realizado em 2016.
Depois de prontos os buñuelos são cobertos com mel de cana e servidos com api orureño, uma deliciosa bebida quente e espessa preparada com farinha de milho roxo, limão, canela, cravo e açúcar. Eu poderia comer estes buñuelos acompanhados de api orureño todos os dias pro resto da minha vida!
O dia chegou ao final com uma visita a cidade de Tumbaya onde conhecemos a igreja histórica e suas pinturas da escola Cuzco.
Esta vila é muito simpática e é à partir daqui que começamos a ver as montanhas de cores deslumbrantes que fazem parte da Quebrada de Humahuaca, mas isto vai ficar para a próxima postagem!
Tivemos um dia incrível conhecendo o norte da Argentina, uma das seis principais regiões do oitavo maior país do mundo. A cultura Andina é fascinante, mas o que realmente nos marcou foi o povo acolhedor, simples e bem humorado da região. Não perca as próximas matérias onde mostraremos as cores de Purmamarca e a devoção de Casabindo.
Não perca todas nossas matérias sobre o Norte da Argentina neste link: comerdormirviajar.com/tag/jujuy
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Mais informações:
www.turismo.jujuy.gov.ar
www.argentina.travel
Los Naranjos Turismo Rural – +54 388 5820 166
Uau, que experiência fascinante! Com certeza vou experimentar, muito obrigado pelas dicas comerdormirviajar!
Parabéns Fábio, seu site está sensacional
As fotos ficaram lindas!!!! Me deu vontade de fazer também!!!!
estou indo a todos locais que são indicados no comer dormir viajar, muito obrigado e continuem com as dicas
Dicas muito valiosas!
Adorei o seu blog e penso como você. Ainda não fiz as viagens que você fez, mas de pouquinho em pouquinho chego lá. E tenho uma vantagem maravilhosa: minha filha sempre viaja comigo e isso é muito bom!
Que sonho de viagem.
galera, beijão pra vcs
Otimas informações irei conferir.