Villa Francioni, a maior vinícola de Santa Catarina e principal atração turística de São Joaquim, colocou definitivamente a Serra Catarinense entre os top produtores de vinhos no Brasil.
Estávamos hospedados na cidade vizinha, Bom Jardim da Serra. Em nosso primeiro jantar no Rio do Rastro Eco Resort fomos apresentados ao vinho Joaquim, um blend das uvas Cabernet Sauvignon e Merlot que adorei desde a primeira taça. Querendo saber mais sobre a vinícola produtora, alteramos nosso roteiro e incluímos uma visita a São Joaquim para conhecermos as plantações e instalações do Villa Francioni.
A cidade de São Joaquim, antes conhecida “apenas” por ser uma das cidades com as menores temperaturas e por ser umas das maiores produtoras de maçãs do Brasil, hoje figura também entre os melhores produtores de vinhos nacionais, graças principalmente a esta vinícola.
A Villa Francioni tem visitas guiadas que permitem aos turistas conhecer as instalações da empresa, onde acontece o processo de produção e degustação de vinhos e espumantes. O valor do ingresso é R$ 30,00 por pessoa, que ao final do passeio se converte em um vale compras do mesmo valor para ser utilizado na loja própria.
Chegando na propriedade, que está localizada na SC-438 que liga São Joaquim a Lages em uma estrada de chão batido a aproximadamente 5 km do centro, é impossível não se impressionar com a estrutura do prédio, não pelo luxo, mas pelo tamanho e funcionalidade (cerca de4,5 mil metros quadrados) e o cuidado com a plantação de uva.
Na entrada do corredor há duas grandes portas, uma trazida da Tailândia e outra de um cassino do Uruguai. Boa parte das paredes são construídas com restos de ruínas de casas da região.
A visita sempre é conduzida por um técnico em enologia. Nosso guia foi o Nei Rasera. Tudo começa em um grande corredor que também funciona como galeria de arte, que já recebeu obras internacionais como Camille Claudel e artistas nacionais renomados, como Luciano Martins. Quando visitamos (02/2015) havia uma belíssima exposição do artista local Juarez Machado, que também assina uma linha de vinhos da empresa.
Neste primeiro momento Nei nos contou a história do fundador da vinícola, Sr. Dilor Freitas, que morreu em 2004, três meses após o término das obras, mas infelizmente antes que as primeiras garrafas de vinho fossem produzidas. O empresário, um grande amante de vinhos, após visitar várias vinícolas pelo mundo decidiu montar a sua própria na Serra Catarinense. O fundador erigiu um conceito pessoal que hoje tornou-se a missão da empresa: “Enriquecer a celebração da vida ao sabor de um elegante vinho elaborado com amor e arte.”
Enquanto a visita percorre os corredores da vinícola vamos descobrindo que os amores de Dilor Freitas foram muitos, além do vinho ele era um amante da arte e colecionava objetos de decoração de todas as partes do mundo. Muitos deles decoram a vinícola, como os vitrais de igrejas Uruguaias que estão em vários pontos da fábrica.
O passeio continua por um grande corredor com uma linda vista panorâmica para as plantações de uva. Na parede há fotos da construção da vinícola e nosso guia foi explicando os detalhes da obra.
Seguimos para um pequeno auditório, escuro, onde foi exibido um vídeo de 7 minutos. Achei o vídeo cansativo, principalmente por se tratar de uma espécie de slideshow, com bonitas fotos, textos exaltando as qualidades da empresa, fundo musical, mas sem narração. Já visitamos muitas vinícolas no sul do Brasil, principalmente no Vale dos Vinhedos em Bento Gonçalves no Rio Grande do Sul e todas contam com vídeos institucionais bem interessantes, acredito que a Villa Francioni possa também ter um vídeo a altura de sua estrutura e tornar esta parte do passeio mais atrativa.
Logo após o vídeo fiquei impressionado com as persianas automatizadas que trazem luz para dentro do “cineminha” revelando janelas onde se consegue observar praticamente toda empresa. Esta parte foi muito legal e causou espanto em todos da sala. A fábrica é linda. A iluminação natural foi privilegiada no complexo e pouca iluminação artificial é necessária, deixando o ambiente fresco e agradável.
As etapas do processo de produção estão em níveis diferentes, o fluxo gravitacional foi aplicado em todas as suas possibilidades, numa construção com 6 desníveis no total.
Para quem olha de fora parece que o prédio foi construído como uma escada. A parte inicial está na área mais alta do terreno e as posteriores em partes mais baixas, desta maneira a produção segue a força da gravidade e os líquidos escorrem para os tanques de forma natural através de tubulações próprias, com o mínimo contato humano possível e maximizando o uso de transferências mecânicas, para desta forma preservar a qualidade dos vinhos.
Além da apresentação dos tanques, Nei também nos mostrou a máquina engarrafadora que custou mais de 1 milhão de reais e tem capacidade de envase de 2.000 garrafas/hora. Para se ter uma ideia, a produção da Villa Francioni é de menos de 250.000 garrafas/ano, portanto a máquina fica a maior parte do tempo desligada. No dia em que visitamos, empregados faziam o etiquetamento dos rótulos e embalavam garrafas.
Após a fermentação que ocorre em grandes tanques, os vinhos tintos são estocados em barris de carvalho e levados para um ambiente escuro no nível mais baixo da produção onde permanecem por meses ou até anos, dependendo do tipo de bebida que será produzida.
Depois de visitar a adega nosso guia nos levou a um elevador panorâmico que chega rapidamente ao nível superior, onde encontra-se o bar e acontece a degustação. A decoração é nobre, com vários objetos antigos de fazenda, muitas mesas, cadeiras e confortáveis sofás para acomodar os visitantes.
Neste ponto da visita nos despedimos de Nei Rasera e conhecemos o enólogo Dionatan que nos explicou sobre cada produto e nos serviu. Na Villa Francioni são cultivadas seis variedades de uvas tintas e duas brancas. Na sua obsessão pela qualidade, a vinícola só vinifica uvas de sua própria produção.
Começamos a degustação com um Joaquim Rosé Espumante Brut Método Charmat – Ficha completa aqui; seguido por um Vinho Branco Licorosso – Sauvignon Blanc – Colheita Tardia – Ficha completa aqui; Villa Francioni Rosé – Ficha completa aqui; depois um Joaquim – Cabernet Sauvignon, Merlot – Ficha completa aqui e um Villa Francioni Vinho Tinto Fino Seco – Ficha completa aqui.
Nota-se também a preocupação com a apresentação do produto final nas garrafas, principalmente no vinho VF Rosé, que lembra um frasco de perfume francês.
Dilor de Freitas, que sempre teve a família como inspiração, homenageou sua esposa colocando na vinícola o sobrenome italiano da família dela, Francioni. Seu vinho de base, o Joaquim, é também uma homenagem à cidade que acolheu o negócio; o Francesco é dedicado ao primeiro imigrante italiano da família Francioni a chegar no Brasil. Já o Michelli homenageia o patriarca que ficou na Itália.
O passeio guiado na vinícola não inclui uma visita aos vinhedos, ficando restrito apenas ao processo de produção e à loja. Mas como a estrada de acesso à sede da empresa passa pelo meio da plantação, o visitante pode parar no meio do caminho para tirar algumas fotos. A tela branca que cobre a plantação é para protege-la do granizo, que costuma cair com frequência na região e das ocasionais nevascas. Durante nossa visita o tempo mudou completamente, e saímos com muita chuva.
Foi uma experiência muito gratificante, é fantástico ver como uma região pode ser beneficiada com empresários sonhadores e guerreiros. Parabéns a toda família do Sr. Dilor Freitas, na minha opinião o conjunto arquitetônico, com seus vitrais e corrimões de ferro batido, poderia ser chamado de Catedral do Vinho.
Se você deseja fazer uma viagem pela Serra Catarinense coloque a vinícola Villa Francioni no seu roteiro. A Vinícola está aberta para os visitantes de domingo a domingo, com três opções de horários: 10h, 13h30 e 15h30, o melhor é marcar sua visita com antecedência pelo site, pois é comum lotar a capacidade máxima de cada horário.
Vinícola Villa Francioni
Rodovia SC 438, Km 70 | São Joaquim, SC
villafrancioni.com.br